Rio Azul
Não há um rio na
minha terra!..
Só a três léguas,
pra cada lado.
Mas eis que a vida
aqui me desterra
Pra me dar um — o
meu terno Sado!
Rio tranquilo, rio
do Sul,
De águas puras
como um cristal.
Doutro não sei,
mais claro e azul,
Rio mais belo de
Portugal!!!
Passo os meus dias
a ver-me nele
Plas duas margens,
atento e só.
Raro me ausento,
me afasto dele,
Tenho mais sorte
do que Feijó...
Como um ser vivo,
o Sado arqueja
Todo inteirinho,
da fronte aos pés.
Agora enche, logo
despeja,
Ao ritmo crónico
das marés.
É cuidadoso, é
sossegado,
Não sofre cheias,
raro trasborda.
Adolescente sempre
ensonado,
Sono tranquilo que
o sol acorda.
La vão os cercos
plo Sado abaixo,
Ao mar vizinho, à
sua lida.
«Voltem pesados,
co’a borda em baixo !»
Gritam gaivotas em
despedida.
Depois, ao largo,
um cantar se eleva
Dos pescadores.
Que lindo que é!
«Olivolé — ai
arriba e leva!
Arriba e leva! —
ai ólivolé!»
Mira-se a Arrabida
nesse espelho
De águas serenas,
à luz da aurora.
E o velho Outão,
qual Neptuno velho,
E que as vigia, de
dentro e fora.
Rio amoroso, beija
as areias
Da Tróia nua,
deitada a seu lado.
E abraça e beija
brônzeas sereias
Que se refrescam
na praia, a nado.
Abrem-lhe o peito,
lá pra montante,
Tiram-lhe sal,
alvejando em montes:
Brancas salinas de
alvor brilhante,
Almas de virgens
plos horizontes.
Verdes pinheiros,
descendo a serra,
Vêm cautelosos
molhar os pés,
Bronzes de
estátua, verde que berra
Sarapintando o
violento grés.
... ... ... ...
... ... ... ...
E quando, à noite,
o luar se abata
No Sado azul,
preguiçoso, terno,
Todo ele é salva
de nívea prata
Pra as alianças
dum amor eterno!
ResponderEliminarIsto é que é paixão!!
(^^)
Engraçado que não sei se alguma vez fui a Setúbal e pela descrição deve ser lindissimo. Tenho de pensar nisso.
ResponderEliminarBeijocas e um bom dia
Adoro Setúbal, o Sado, a Arrábida, o Portinho, os seus monumentos etc.
ResponderEliminarE gostei imenso do poema.
Abraço